É fato que a pandemia causada pelo novo Coronavírus tem afetado todas as instâncias da sociedade, seja na vida pessoal dos cidadãos, nos negócios dos comerciantes, nas transações financeiras e no universo econômico.
Apesar de tanta incerteza, o spread bancário – diferença entre quanto os bancos pagam pelos recursos e quanto cobram dos clientes, chegou a atingir números reduzidos em quase seis anos.
De acordo com o Banco Central (BC), a diferença entre a taxa média cobrada nos empréstimos e a taxa de captação dos recursos ficou em 14,99 pontos percentuais, em agosto deste ano. A última vez em que o indicador ficou abaixo desse nível foi em dezembro de 2014, quando atingiu 14,61 pontos.
O spread bancário é tido como um vilão nas transações bancárias, pois é ele o responsável por dificultar a gestão financeira de muitos negócios e de quem precisa de crédito. Um termo que assusta e que confunde a maioria da população que quase não sabe da sua funcionalidade.
Essas taxas geradas pelo Spread passaram, em outubro deste ano, de 21,5 pontos para 21,2 pontos percentuais em novembro. Nas operações com pessoas físicas, houve queda de 33,3 pontos em outubro para 32,5 pontos em novembro deste ano. Com isso, o “spread” bancário ainda segue em patamar elevado para padrões internacionais.
Entender o spread bancário é fundamental para saber os impactos no bolso das famílias brasileiras, afinal o termo é uma operação constante na vida de todos que utilizam serviços bancários.
O spread é composto pelo lucro dos bancos, pela taxa de inadimplência, por custos administrativos, pelos depósitos compulsórios – mantidos no Banco Central – e pelos tributos cobrados pelo governo federal, entre outros.
O spread é o responsável pela diferença entre os juros que o banco paga aos clientes para captar recursos, como quando o cliente empresta dinheiro ao banco por meio da poupança e de renda física, por exemplo, e os juros que esse banco cobra do cliente que pede um empréstimo.
Como forma de exemplificar essa transação, ao aplicar o dinheiro na poupança e receber um rendimento de 8% ao ano, o mesmo banco cobra 30% para fazer um empréstimo, o spread bancário dessa transação será de 22%.
Nestes casos, os juros pagos pelas aplicações financeiras costumam ser mais baixos que as taxas pedidas pelos bancos em empréstimos. Para os bancos, quanto maior o spread, maior será o seu lucros nas operações.
Ao entender o spread bancário, é preciso analisar a composição e como cada um deles interfere diretamente no valor final. O “spread” é composto pelo lucro dos bancos, pela taxa de inadimplência, por custos administrativos, pelos depósitos compulsórios – mantidos no Banco Central – e pelos tributos cobrados pelo governo federal, entre outros.
Cada um dos componentes do spread tem uma funcionalidade. Veremos a seguir, na prática, como cada uma funciona:
Quando o cliente não paga como combinado, é tido como inadimplente. O risco de o banco não receber o dinheiro de volta ao conceder um empréstimo é incluso no spread, ou seja, é como se o banco colocasse uma “margem de segurança” em cada empréstimo que faz para compensar eventual perda decorrente de clientes que não pagam a sua dívida.
Independente do tipo de banco, seja um comercial ou cooperativa, as instituições que oferecem créditos geram superávit financeiro baseado na margem de lucro entre o valor que pagam de rendimentos aos clientes que investem e o que recebem com os juros sobre os empréstimos aos clientes que tomam crédito.
Os impostos que entram nesta conta são o Imposto de Renda (IR), Imposto sobre Operação Financeira (IOF), Programa de Integração Social (PIS), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). O IR e o CSLL incidem sobre os lucros da instituição, enquanto o PIS e COFINS são cobrados sobre a receita total. O tributo que já é pago diretamente pelo cliente é o IOF, mas os bancos alegam que ele ajuda a reduzir o rendimento do aplicador e encarecem o custo para o tomador, então o IOF acaba fazendo parte da conta do spread.
O Banco Central (BC) recebe o depósito compulsório vindo de instituições bancárias por meio de uma determinação legal. Esse depósito é referente a parte das captações em poupança, depósitos à vista e depósitos à prazo.
Ele tem o objetivo de controlar o volume de dinheiro em circulação na economia, e acaba afetando diretamente nas taxas de juros praticadas, pois para as instituições financeiras, esse depósito é um dinheiro “desperdiçado”, que poderia ser usado para gerar lucros para a empresa.
O FGC, mecanismo de proteção aos correntistas, poupadores e investidores, permite recuperar até um limite determinado em caso de falência ou liquidação da mesma. Para isso, o FGC recolhe 0,0125% do valor dos depósitos totais das instituições filiadas.
Os custos administrativos referentes aos gastos com salários e despesas dos funcionários e das agências bancárias são incorporados ao spread para realizar as operações de crédito.
Como já dito, entender o spread bancário deixa mais claro a lógica de funcionamento das transações financeiras nas agências bancárias e os investimentos ligados a elas. O spread está diretamente relacionado com os juros pagos ao fazer um empréstimo e o lucro ao fazer um investimento.
O spread é importante para os bancos porque ele mantém o funcionamento, bem como compensa os custos de cada operação e permite a expansão das atividades. Entretanto, como na maioria das operações brasileiras, as taxas acabam sendo maiores do que em outras regiões.
Desde 2016, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de spread bancário, sendo menor apenas que o da ilha de Madagascar. Para se ter um ideia da diferença em relação aos outros países, o spread bancário brasileiro é 7 vezes maior que a média mundial. Porém, vale ressaltar que houve uma queda de 14,1 pontos percentuais nos últimos 20 anos.
Alguns especialistas no assunto, relacionam os juros altos ao consumidor que não consegue recuperar o dinheiro emprestado, seja por dificuldades financeiras ou consequência da crise econômica instalada no país há mais de cinco anos.
Quando se compara o ranking de recuperação de crédito com o de spread bancário, também com dados do Banco Mundial, é possível verificar que os países com a menor taxa de recuperação são também aqueles com os maiores spreads.
Alguns problemas estruturais são apontados como causadores do spread bancário atual no país, entre eles, a concentração bancária, a inadimplência, juros e inflação, carga tributária e a porcentagem dos créditos bancários.
A concentração bancária deixa essa guerra mais acirrada. A crescente privatização dos bancos desde a implantação do Plano Real, tem modificado as operações. Em 2006 os 5 grandes bancos brasileiros detinham apenas 60% dos ativos.
Já em 2018, os cinco maiores bancos do país detinham 82% dos ativos e 90% das agências. Na maioria dos mercados, a maior concorrência faz abaixar os preços dos serviços e produtos, por isso o oligopólio dos bancos contribui para que os valores cobrados por eles sejam tão altos.
Com a chegada da pandemia no país, muitos brasileiros deixaram de arcar com o pagamento das contas, seja pela perda do emprego, a queda na renda ou dificuldades financeiras acumuladas ao longo dos anos.
A inadimplência, segundo os especialistas, também é a responsável pelo spread bancário alto no Brasil. Por outro lado, as pessoas culpam as altas taxas de juros como empecilho para o pagamento das dívidas.
Entre as principais causas das taxas altas, o juros e a inflação estão no topo do ranking. Para saber o quanto o investidor vai obter de rendimento, é preciso descontar a inflação – o quanto o dinheiro é desvalorizado no período do investimento.
Já a taxa de juros, calculada pela subtração da taxa básica de juros pela inflação, representa o poder de compra ao investir. Com as altas taxas, a economia estimula o investimento em aplicações financeiras, ao invés de investir em produção de bens e serviços, o que aumenta também o risco do crédito, pois os investidores estão ganhando bons retornos com baixos riscos, e isso acaba se refletindo no spread.
Como em todas as transações financeiras, a carga tributária brasileira é uma das mais elevadas do mundo. Ela também é a responsável pelo spread alto no país, já que a concentração bancária permite que o banco repasse os custos integralmente aos clientes.
Por fim e não menos importante, os créditos bancários também englobam o spread brasileiro. O elevado volume de créditos direcionados, principalmente, dos bancos públicos (Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil) acaba reduzindo o volume disponível para os investidores, que resulta em menos capital para as outras atividades, fazendo com que o preço dos juros se eleve.
Para o Banco Central, o spread é a diferença entre a taxa de empréstimo e a média ponderada das taxas de captação de CDBs. Calcular esse termo é, relativamente, simples. O cálculo é baseado na seguinte fórmula:
Spread bancário = (taxa de empréstimo) – (taxa de captação)
Exemplificamos: o investidor deixa o dinheiro rendendo na poupança a uma taxa de 6% ao ano. O banco, por sua vez, utiliza esse dinheiro e remunera o cliente com base nesses 6% e empresta este dinheiro para financiar um determinado projeto, cobrando do terceiro uma taxa de 20% ao ano. Neste caso, o valor do spread é de 14% (20% – 6%= 14%). Ou seja, nesta transação entre investidor e cliente “terceiro”, o banco lucrou 14%.
A Selic é a taxa básica de juros e serve como um instrumento de política monetária determinado pelo Comitê de Política Monetária (COPOM), do Banco Central, que controla a inflação e assegura a estabilidade dos preços. A Selic influencia todas as operações de crédito, como a dos empréstimos e dos financiamentos, entre outros.
Por influenciar todas as operações de crédito, a Selic é o componente primário do spread bancário, pois determina o custo de oportunidade envolvido na operação. Para que o país alcance taxa de juros menor e, consequentemente, o spread mais baixo, é preciso, além de reduzir a taxa Selic, executar reformas estruturais importantes.
Entre as opções para a baixa nos juros e taxas, diminuir a alíquota dos recolhimentos compulsórios, implementar políticas mais atuais que auxiliem os consumidores a arcar com o pagamento das dívidas, reduzir as taxas tributárias e propiciar segurança jurídica para as empresas.
O spread bancário é a ferramenta que norteia a vida financeira, tanto dos bancos quanto da população. Por meio dos índices é possível saber o quanto os investidores irão lucrar, bem como quanto os bancos irão receber pela aplicação das taxas.
Quanto maior a taxa de juros, maior é o incentivo das pessoas deixarem seu dinheiro parado numa aplicação financeira. E, por outro lado, quanto menor a taxa de juros, maior é o incentivo das pessoas para consumirem mais, produzirem mais, aumentarem suas empresas, contratarem mais pessoas.
Nesta relação, quanto mais alto o spread, menos as chances de as pessoas realizarem investimentos, principalmente, na poupança. As pessoas passam a consumir, comprar ou investir menos.
Além de impactar positivamente na vida das pessoas, a redução do spread impacta diretamente em algumas atividades, deixando-as mais ou menos atrativas, reduzindo a dívida da população e, ainda, facilitando a renegociação dessas dívidas.
Um grande exemplo disto, é a taxa do cheque especial que, em 2015 chegou a 287%. Este ano, caiu para 2130% entre janeiro e fevereiro, entretanto, com a incidência da pandemia, os juros e a competitividade entre os serviços se tornou mais acirrada, dificultando as negociações e transações bancárias.
Alguns fatores têm contribuído ativamente para o spread alto no país, entre eles, o aumento das unidades bancárias depois da privatização e fusão de alguns bancos, e a chegada da pandemia do novo Coronavírus que obrigou os empresários a rever valores e aplicar aumento nos serviços oferecidos à população.
Uma das ferramentas mais importantes do universo financeiro, apesar de ser considerado um vilão, o spread atua diretamente como um termômetro das taxas brasileiras, aumentando ou diminuindo o poder de consumo das pessoas.
Segundo os bancos, por conta do risco de inadimplência depois de liberar empréstimos, é preciso cobrar juros altos calculados a partir das variáveis do mercado, como da Selic e da inflação, por exemplo.
É verdade que a inadimplência é um problema recorrente no Brasil. Hoje, o número de pessoas que estão no SPC (serviço de proteção ao crédito) somam mais de 63 milhões, além de empresas que tentam renegociar suas dívidas bancárias.
No Brasil, essa taxa já chegou a ser sete vezes maior do que a média dos outros países, perdendo apenas para a ilha de Madagascar. Dados referentes ao período de novembro de 2018 ainda mostram o país com uma taxa de spread bancário alta: a taxa de juros paga pelos bancos aos investidores circulava ao redor de 6,4%, enquanto a taxa cobrada pelos mesmos em empréstimos variava em torno de 24,6%. Isso significa que, ao final de 2018, os bancos brasileiros contavam com um valor de spread bancário de, em média, 18,2%.
Para os bancos, uma das justificativas das altas taxas é o fato de o Brasil ocupar uma das piores posições em relação à recuperação judicial de crédito. De acordo com dados do Banco Mundial, a cada 1 dólar que é emprestado por aqui, apenas 0,13 dólares são recuperados. Ou seja, apenas 13% do valor.
Já para alguns especialistas, a culpa são dos bancos que cobram taxas excessivas nas transações financeiras, das mais simples às mais complexas. Segundo um dado divulgado pelo Departamento de Estudos e Pesquisas do Banco Central do Brasil (BCB/DEPEP), os lucros dos bancos representaram pouco mais de 54% do valor total do spread bancário, ou seja, mais da metade do valor total.
Outro fator apontado pelos especialistas como responsável pelo alto spread brasileiro é o monopólio bancário. Desde a implantação do plano real, a concorrência entre as agências diminuiu e o controle que os bancos existentes possuem sobre a necessidade que as pessoas têm sobre as transações, só aumentou.
Uma das possibilidades de reduzir o spread bancário é a permissão de novas unidades bancárias no país, incentivando a criação de novos bancos e desenvolvimento de cooperativas e até de fintechs no país.
Além da baixa taxa de recuperação de crédito em atraso e da dificuldade para executar garantias, o spread elevado é resultado de uma série de fatores que precisam ser revistos para evitar que os consumidores, investidores e a população em geral que depende de transações bancárias sejam penalizados pelas altas taxas.
Com mais competição em mais unidades bancárias, as empresas se veem obrigadas a oferecer serviços mais baratos, estimulando o consumidor a gastar com mais eficiência e consciência, o que possibilita mais produtividade para o setor econômico brasileiro como um todo.
A inovação do setor com a chegada das fintechs, por exemplo, também pode ser uma solução eficaz para os investidores, uma vez que podem usufruir de taxas menores, que não estão ligadas aos bancos.
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